
“Não há quem discorde do fato de que a história tem mais de uma função. No mínimo, pode-se dizer que ela tanto possibilita o conhecimento do passado quanto facilita o entendimento do presente e ainda favorece o tracejamento ou a prospecção do futuro. E, se perguntarmos por que razão a história é assim tão rica, vamos descobrir que é porque não existem, de fato, limites estanques entre passado e presente, entre presente e futuro. Afinal, como ensina Arnold Toynbee, ‘a história não se ocupa de um passado morto, mas de um passado que sobrevive’, que respira no presente e se projeta no futuro.
Com base nessas premissas, o Bloco Minas sem Censura, constituído pelos Deputados da Oposição na Assembleia, no início de 2011 deliberou por editar este jornal, dedicando-o à divulgação de fatos e dados sobre o governo Aécio Neves em Minas, período de janeiro de 2003 a março de 2010. O bloco tem para isso duas razões. A primeira é a constatação de que o massivo investimento feito por esse governo em propaganda oficial resultou na criação de uma imagem falsa para o Estado, a ponto de se poder falar em duas Minas, a Minas real, com seus problemas, e a Minas do ‘marketing’, mostrada como verdadeira versão do paraíso: assim, Minas não conhece Minas, não sabe de seu passado recente senão a face artificial da propaganda. A segunda razão é também uma constatação: a de que a estratégia permanece viva no atual governo, que se vê tolhido pela apropriação a que o mantém submetido ao governo anterior.
É imprescindível, pois, conhecer a real face desse passado, identificar seus tentáculos no presente e discernir se é do interesse de Minas que subsistam. Tudo começou com o uso das verbas publicitárias oficiais, gerenciadas pela irmã Andrea Neves. Desde o início de 2003, o governo investiu verbas vultosas em publicidade. Para se ter ideia, o montante destinado por Aécio à publicidade em 2007 equivalia proporcionalmente ao que seria gasto em três séculos do governo Itamar. Com esse aporte fenomenal de recursos, Aécio obteve que a imprensa deixasse de publicar qualquer nota que desabonasse a ele ou a seu governo, que evidenciasse a precariedade dos serviços públicos em Minas ou que expusesse erros ou falhas do governo. E obteve, de outro lado, que fossem reiteradamente enfatizados seus méritos pessoais e os de seu governo, fossem eles fundamentados ou não. O silenciamento sobre fatos negativos e o foco em supostos dados positivos tiveram como efeito o gradativo adormecimento da consciência crítica e da opinião pública mineiras. O resultado estendeu-se ao Judiciário, ao Ministério Público e à própria Assembleia, onde Aécio teve base de apoio formada por cerca de 70% dos Deputados. Com isso, não apenas nada se aprovava que não fosse do interesse do governo, como também suprimia-se o debate político, empobrecendo drasticamente uma Casa de tradições de autonomia e independência que, próprias de Minas, são essenciais ao Estado democrático.
E, de fato, o processo vivido em Minas foi o de real desmantelamento da democracia e o de sua substituição por um regime de verdadeira exceção. Não o da ditadura dos canhões, que é declarada e visível, mas o da ditadura branca, disfarçada e dissimulada, que se serve da propaganda para embaçar a visão, alienar as mentes, reprimir ou cooptar os movimentos sociais. Além de entorpecer as consciências, embriagar a opinião pública, solapar as bases das instituições, compor o mito, forçar a aclamação, festejar a unanimidade e, no caso em Minas, sustentar a obsessão de Aécio pela candidatura à Presidência da República. Foi nesse contexto que ele, Aécio, editou mais leis delegadas que seus quatro antecessores juntos e que, por meio dos Deputados governistas, abortou praticamente todo pedido de CPI na Assembleia no período, durante o qual houve em Minas menos CPIs que em toda a época do regime militar. Ele, o autor do mote do déficit zero, encontrou o Estado com uma dívida de apenas R$24.000.000.000,00 e o deixou com uma dívida quase três vezes maior, na casa dos 70 bilhões. Enquanto gastou descaradamente com publicidade, não investiu nos serviços essenciais nem os mínimos necessários: destinou 8% à saúde e 19% à educação, quando os mínimos constitucionais são 12% e 25%, respectivamente. E, contrariando toda a mística em torno de sua gestão, dados do IBGE e da Fundação João Pinheiro revelam que, entre janeiro de 2003 e março de 2010, o crescimento médio anual do PIB em Minas foi de 3,3% enquanto no Brasil o índice foi de 3,5%. Isso mesmo: a média nacional, computados os Estados tradicionalmente mais pobres, foi maior que a do Estado que se gaba de ser a segunda economia do País.
Onde, senão no ‘marketing’, senão na censura, estão os índices fabulosos do desenvolvimento do Estado? É hora de Minas livrar-se do mito que se lhe impôs. A edição desse jornal quer evitar que a verdade histórica se perca e que esse passado sem glória sobreviva no presente. Minas, em termos de passado, tem referência incomparável nos ideais inconfidentes com os quais deve voltar a timbrar a consciência dos mineiros, devolver ao interesse público a sua condição prevalecente sobre o interesse individual e retornar a seu ‘status’ de berço da liberdade e de lugar de permanente defesa da democracia.”
Fonte: http://www.almg.gov.br/opencms/export/sites/default/consulte/arquivo_diario_legislativo/pdfs/2011/07/L20110719.pdf
Diário do legislativo – 19/07/2011 – Assembleia de Minas
57ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 17ª LEGISLATURA
Discursos Proferidos em 12/7/2011
Deputado Sávio Souza Cruz em pronunciamento na 57ª Reunião Ordinária da 1ª Sessão Legislativa Ordinária da 17ª Legislatura – Assembleia de Minas
O Bloco Minas sem Censura lança como balanço de suas atividades neste semestre, sendo também um balanço histórico do que foi o legado dos quase oito anos do governo Aécio Neves.
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